terça-feira, 5 de maio de 2009

SUA CASA, SEU SONHO


SUA CASA, SEU SONHO


MÃE QUERIDA


por: Maria Dolores

Torno a ver, nos meus dias de criança,

O teu regaço, a lamparina acesa,

O pequeno lençol que trago na lembrança,

A oração da manhã e o pão à mesa...
Varro o chão, a fitar-te as mãos escravas,

Afagando o fogão, de momento a momento...

A roupa e o batedouro em que cantavas

Para esquecer o próprio sofrimento...
Depois, era o tinir da caçarola,

Aumentando a despesa no armazém...

Vestias-me de renda para a escola

E nunca me lembrei de ofertar-te um vintém.
Cresci... A mocidade me requesta,

Ante a cidade de qualquer maneira...

Parti... - eu era a rosa para a festa,

Ficaste... - eras a rústica roseira.
De tudo vi na estrada grande e nova,

As flores do prazer, o brilho, a fama.

A malícia dourada e os suplícios da prova

Marcando a pranto e fel os passos de quem ama...
Hoje, volto a buscar-te, mãe querida,

Dá-me de tua paz sem ilusão,

Guarda-me em ti, amor de minha vida,

Alma querida de meu coração.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

COM TODO AMOR - Dia das Mães

“Era sim.
Eu era a teimosia em pessoa.
Lembra-se, Mãezinha, de quando me ocultava para fugir de você?
Escutava seus gritos, suas palavras ternas:
- “Venha cá, Mamãe está chamando…
”Ouvia tudo e arrancava-me para longe.
E quando me achava de novo em casa era bastante que o seu olhar indagador me fitasse para que me pusesse a agredir:
- “Você, Mamãe, não me entende…
Nunca entendeu…
Nada.
Quero viver minha vida que é diferente da sua.
Deixe-me em paz…”
Percebia que os seus olhos se erguiam para mim, molhados de lágrimas que não chegavam a cair, sem qualquer palavra de reprovação ou de queixa.
Hoje que a experiência me renovou, creio que o seu silêncio deveria ser uma conversa com Deus a meu respeito, que eu não procurava, nem queria compreender.
Agora, porém, anseio confessar que todas as minhas frases trocadas de aspereza e de ingratidão eram mentira pura.
Por que passaria tanto tempo sem que eu lhe dissesse isto?
Em verdade, nunca encontrei um amor igual ao seu.
A vida nos separou com a rudeza da tesoura que corta um ramo florido da árvore em que nasceu.
Qual sucede à flor arrebatada aos braços da fronde, muitos disseram que eu ia para a festa…Entretanto, de todas as festas a que o mundo me conduziu, sempre me retirei com mais sede da sua ternura, da sua ternura transitoriamente perdida.
Seu amor está em meu coração, como a vida que se entranha em minhalma. Seus gestos de carinho permanecem comigo como estrelas no céu noturno.
Perdoe-me pelas cruzes da aflição que dependurei no seu peito, mas ouça, Mãezinha !…
Deus não permitirá que o seu sacrifício tenha sido em vão.
Venho beijar-lhe os cabelos que a prata do tempo começou a enfeitar de luz e, ao rever-me
no espelho cristalino do seu olhar, observo quanto mudei !…
Ampara-me, não me abandone !…
E se posso pedir alguma coisa com o pranto de meu reconhecimento, rogo incline os ouvidos para os meus lábios.
Anseio revelar um segredo…
Unicamente entre nós.
Você e eu…
Isto agora é tudo quanto quero falar.
- Você, Mãezinha, sempre me compreendeu…
Sei agora que nunca nos separamos.
Abrace-me…
Está sentindo?
Meu coração está pulsando pelo seu coração…
Abrace-me…
Mais ainda !…
Tenho fome do seu amor…
Abençoe-me, ensine-me a conversar também com Deus e deixe que eu diga que nunca serei feliz sem você.”

Maria Dolores
(De “OS DOIS MAIORES AMORES”, de Francisco Cândido Xavier - Autores diversos)